viernes, 21 de septiembre de 2012

BRASIL BUSCARA NOVOS ACORDOS COMERCIAIS

O Brasil está obrigado a avançar em acordos comerciais, caso contrário cederá cada vez mais espaço no comércio internacional para os concorrentes, como os países asiáticos, disse o ministro de Relações Exteriores, Antônio Patriota, no seminário "Política Externa Brasileira: Desafios em um Mundo em Transição", promovido pela Câmara dos Deputados. "Ficarmos parados não significará ficarmos no mesmo lugar, significará andarmos para trás", discursou. "Se não fizermos nada, outras regiões estão se movimentando, se mobilizando", disse, lembrando que, em 2014, o Brasil deve perder vantagens tributárias concedidas pela União Europeia, com seu Sistema Geral de Preferências.
Patriota lembrou a decisão do governo de fazer consultas ao setor privado sobre a viabilidade de reabrir as negociações para um acordo de livre comércio com a União Europeia e iniciar negociações com o Canadá. Ele disse que, com a crise econômica mundial, o Mercosul, tem sido procurado por outros países interessados em pactos comerciais. O Japão está entre esses países, informou. "Não estamos indiferentes a esse movimento", comentou. "É importante procurarmos avançar."
O alerta de Patriota pode ser entendido como um recado também a autoridades no governo brasileiro e em países do Mercosul, como na Argentina, que resistem a novos esforços de abertura comercial. A consulta aos empresários, mencionada pelo ministro, foi decidida pela Câmara de Comércio Exterior (Camex) após um esforço frustrado do Itamaraty para anunciar, já, a proposta de lançamento das negociações com europeus e canadenses. Os ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento preferiam adiar qualquer definição até receber o resultado das consultas aos empresários, que têm levado demandas ao governo para ampliar barreiras comerciais e se mostram pouco animados com ideias de tratados de livre comércio.
Patriota, no seminário, disse que o Brasil pretende aproveitar a presidência temporária do Mercosul para apoiar projetos conjuntos de inovação e reforço da educação. No plano do governo brasileiro está a criação de um programa de intercâmbio de estudantes e professores inspirado no Erasmus, da União Europeia, disse. O Brasil acredita ser possível, ainda, uma inédita incorporação das pequenas e médias empresas nas atividades do Mercosul, que incluirá, na próxima reunião de cúpula, um seminário empresarial dedicado a integração produtiva dos países sócios.
Fonte: Valor Econômico(19/09/2012

COMERCIO EXTERIOR - BRASIL 2012

Em entrevista exclusiva ao Portal Global 21, o Sr. José Augusto de Castro, Presidente em exercício da Associação de Comércio Exterior do Brasil – AEB – aborda temas de destaque no atual cenário de comércio exterior em que o Brasil está inserido, como controle de câmbio, relações comerciais entre Brasil e Argentina e suas implicações, medidas necessárias para o aumento da competitividade das empresas brasileiras ante seus concorrentes internacionais e algumas recomendações às empresas que pretendem expandir seus mercados-alvo e exportar.

G21 - O incentivo às exportações, como medida para estímulo da indústria nacional, tem tido grande destaque no governo da presidente Dilma Roussef, através de programas como o Brasil Maior, por exemplo. Qual tem sido o papel da AEB dentro deste cenário?
José Augusto de Castro - As medidas de incentivo às exportações incluídas no Plano Brasil Maior, embora tenham boa intenção, são insuficientes para reverter o atual cenário de falta de competitividade das exportações de produtos manufaturados, devido a gargalos e entraves internos nas áreas de infraestrutura, sistema tributário, legislação trabalhista, custo financeiro, carga tributária, burocracia e taxa cambial. Sempre destacando e enfatizando a necessidade de o Brasil realizar seu dever de casa, como contribuição para a solução destas deficiências, a AEB tem participado de palestras no congresso e de reuniões e seminários com órgãos e entidades governamentais, apresentando propostas e discutindo sugestões para a elevação da competitividade externa. 

G21 - O Sr. acredita que o controle do câmbio seja a solução para o aumento da competitividade das empresas brasileiras no mercado internacional? Por quê?
Castro - O sistema de câmbio livre, e flutuante, é uma conquista dos setores atuantes no comércio exterior, que não desejam sua modificação, muito menos revogação. A adoção de controles sobre câmbio, num primeiro momento pode aumentar artificialmente a competitividade dos produtos manufaturados, mas a médio e longo prazo não é uma solução adequada, pois, em determinados momentos, os objetivos dos exportadores são diferentes dos gestores públicos. Além de poder gerar distorções e insegurança, o controle cambial não ataca as causas estruturais de nossos problemas, mas apenas seus efeitos conjunturais. Para a AEB, a solução dos gargalos e entraves internos, significando redução de custos, constitui solução definitiva para elevar a competitividade das exportações, sejam de manufaturados ou commodities, qualquer que seja a taxa cambial praticada.

G21 - Em busca de medidas para garantir o seu superávit comercial, a Argentina tem prejudicado intensamente as exportações brasileiras com práticas tidas por muitos como desleais. Sabe-se, também, que dentre os setores mais atingidos estão o calçadista e o de máquinas e equipamentos. Quais medidas o governo brasileiro deveria adotar para amenizar essa situação? Qual o papel do Mercosul nesse contexto?
Castro - Ainda conseqüência do calote do passado, a Argentina não tem acesso ao mercado financeiro internacional, dependendo de gerar robusto superávit comercial para atender suas necessidades de divisas.  As exportações argentinas são baseadas em commodities, atualmente trigo e soja, mas a soja teve quebra na colheita e seus preços estavam em forte queda no final do ano, “obrigando-a” a adotar medidas que infringem as normas da OMC e suspendem unilateralmente os privilégios dos países membros do MERCOSUL.  Desta forma, a Argentina constitui um difícil problema político para o governo, devido aos riscos reais de redução do superávit comercial e reflexos negativos na atração de investimentos, e econômico para as empresas exportadoras, decorrente da redução das exportações de manufaturados, em especial de calçados, máquinas e equipamentos. O governo brasileiro deve ser firme para fazer valer o cumprimento das normas da OMC e não se enfraquecer em futuras reclamações contra outros países, mas ao mesmo tempo deve ter compreensão pelo momento de incerteza vivido pela Argentina, pois um novo fracasso respingará diretamente no Brasil, sob diferentes formas. Quanto ao MERCOSUL, o Brasil deve aproveitar este momento para desatar as amarras que proíbem seus países-membros de negociar acordos bilaterais, mediante a transformação do MERCOSUL em área de livre comércio ou através do recebimento de autorização para negociação isolada de acordos comerciais.

G21 - A China possui atualmente uma das economias que mais crescem no mundo. A média de crescimento econômico deste país, nos últimos anos é de quase 10%, taxa esta superior a das maiores economias mundiais, inclusive a do Brasil. Considerando também que este país é o maior exportador mundial de bens de consumo, como o Brasil pode encontrar uma alternativa para competir em âmbito global?
Castro - Nos últimos 25 anos a China investiu fortemente em infraestrutura rodoviária, ferroviária, portuária, energia, entre outras áreas, que aliadas a uma taxa cambial desvalorizada, propiciou elevada competitividade aos produtos chineses, e, como resultado, fez as exportações chinesas crescerem 870% desde o ano 2000 e em 2009 transformar a China no maior exportador mundial, sendo 95% de produtos manufaturados, especialmente bens de consumo. Apenas como detalhe, dos 10 melhores portos do mundo, 8 são chineses. Tomando como exemplo este cenário, para o Brasil ter condições de competir no mercado mundial de produtos manufaturados é indispensável eliminar, ou reduzir significativamente, os gargalos e entraves internos anteriormente citados. Executando essa tarefa, a defasada taxa de câmbio terá importância menor e a competitividade dos produtos manufaturados será maior. Enquanto isso não se torna realidade, continuamos a depender das exportações inter-companies e dos limitados mercados da América do Sul. A propósito, mesmo ajudadas pela explosão das commodities, as exportações brasileiras cresceram 370% após o ano 2000.

G21 - Quais são os aspectos que o Sr. recomendaria atenção às empresas que planejam começar expandir os seus mercados-alvo e exportar?
Castro - Para as empresas que desejam começar a exportar produtos manufaturados, a América do Sul deve ser o mercado prioritário, pela proximidade geográfica, aspectos culturais, facilidade de idioma e nível de desenvolvimento. As empresas já exportadoras, de médio para grande porte e com intenção de ampliar suas vendas externas, inicialmente, devem buscar todas as informações possíveis sobre o selecionado mercado-alvo, o produto, preços praticados e concorrentes. Caso os dados obtidos sejam favoráveis, buscar um agente de exportação para o mercado ou região selecionado e, se o orçamento permitir, visitar o mercado-alvo e seus potenciais clientes. Por outro lado, independente de a empresa ser iniciante ou já exportar, sempre recomendo que toda empresa destine 1% de sua produção para a exportação, mesmo sacrificando margens de lucro, pois o objetivo é criar tradição, gerar confiabilidade, transmitir segurança, mostrar o produto, propiciar imagem positiva, conhecer seus concorrentes e verificar se sua estrutura interna é adequada para atender à demanda do mercado externo. Exportar é uma forma de preparar a empresa para enfrentar a concorrência no atual mundo globalizado, no Brasil ou no exterior. 
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